Poesia
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Marília de Dirceu (Parte II , Lira XXI)
por Tomás Antônio Gonzaga


Que diversas que são, Marília, as horas,
Que passo na masmorra imunda, e feia,
Dessas horas felizes, já passadas
Na tua pátria aldeia!

Então eu me ajuntava com Glauceste;
E à sombra de alto Cedro na campina
Eu versos te compunha, e ele os compunha
À sua cara Eulina.

Cada qual o seu canto aos Astros leva;
De exceder um ao outro qualquer trata;
O eco agora diz: Marília terna;
E logo: Eulina ingrata.

Deixam os mesmos Sátiros as grutas.
Um para nós ligeiro move os passos;
Ouve-nos de mais perto, e faz flauta
C'os pés em mil pedaços.

Dirceu, clama um Pastor, ah! bem merece
Da cândida Marília a formosura.
E aonde, clama o outro, quer Eulina
Achar maior ventura?

Nenhum Pastor cuidava do rebanho,
Enquanto em nós durava esta porfia.
E ela, ó minha Amada, só findava
Depois de acabar-se o dia.

À noite te escrevia na cabana
Os versos, que de tarde havia feito;
Mal tos dava, e os lia, os guardavas
No casto e branco peito.

Beijando os dedos dessa mão formosa,
Banhados com as lágrimas do gosto,
Jurava não cantar mais outras graças,
Que as graças do teu rosto.

Ainda não quebrei o juramento,
Eu agora, Marília, não as canto;
Mas inda vale mais que os doces versos
A voz do triste pranto.

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